quarta-feira, 8 de junho de 2011

EDUCAÇÃO SEXUAL NA ESCOLA: IMPORTÂNCIA, LIMITES E DIFICULDADES

MORA, Leandra Cristina
FARIA, Eliane Marcal de
JACOMO, Johayne Pacheco
Acadêmicas da Faculdade de Ensino Superior Dom Bosco
Membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade - GEPES
Bolsitas GEPES-PET-MEC-FDB
BONFIM, Cláudia
Coordenadora do GEPES


Resumo: A sexualidade é a necessidade básica do ser humano, que não pode ser separada da vida, pois envolve o desenvolvimento da pessoa em sua totalidade: seus sentimentos, pensamentos e ações. No presente estudo de caráter bibliográfico, procura-se averiguar como os docentes relacionam a temática da sexualidade nas séries iniciais do Ensino Fundamental e, se a mesma é abordada no espaço escolar. Fundamenta-se, especialmente em Sayão e Bonfim. Conclui-se que, a escola ora silencia, oculta ou não aborda o tema na intensidade necessária, e isto se deve a diversos fatores, entre eles: a visão docente sobre a temática, que se formou a partir de sua própria educação sexual; a visão e interferência da família sobre a importância da abordagem da sexualidade no ambiente escolar e à falta de formação docente para abordar o tema.

Palavras-chave: Educação Sexual; Escola; Postura Docente.

Introdução

A sexualidade infantil é fundamental na formação da personalidade, pois é uma necessidade básica do ser humano desde o nascimento.
O conceito de Educação Sexual aqui explicitado é a orientação, a preparação, o ato que possibilitará a criança viver sua sexualidade de forma natural, saudável, prazerosa e consciente, sabendo tomar decisões, se posicionar e reconhecer até onde vai sua liberdade e limites. A família e escola são dois lugares com missões específicas para cada um embora estejam integrados na unidade de projeto comum. Aos pais, cabe o direito e dever da Educação Sexual dos filhos independente da missão da escola. A sociedade também realiza um papel decisivo da Educação Sexual de todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos, mas independente destas outras esferas, pautando em Bonfim (2009) parte-se da premissa que a escola é neste momento histórico um dos locais mais privilegiados para que a educação sexual seja realizada.

Objetivo Geral

O presente trabalho enfoca a questão da Educação Sexual na escola, e busca esclarecer sobre a importância da mesma ser tratada no ambiente escolar e qual tem sido a postura do educador frente a esse trabalho.

Problemática

Ao discutir-se a temática da Educação Sexual nas escolas, cabe partirmos do seguinte questionamento: como e por que tratar de sexualidade no espaço escolar?
Parte-se do pressuposto, que ao compreender esta questão, o educador estará consciente da necessidade da abordagem do tema em sala de aula, que em geral é silenciado, pois a escola nem sempre aborda o tema, e quando este é tratado não envolve a intensidade e amplitude necessária.

A Educação Sexual na Escola

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN - 9394/96), em seu artigo segundo, referente aos Princípios e Fins da Educação Nacional, declara: “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
Cita também, no artigo vinte e nove, referente à Educação Infantil: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.” (LDBEN 9394/96).
Se a lei tem por finalidade garantir as condições legais para o desenvolvimento integral do educando, a escola, para o alcance desse objetivo, há também que educar sexualmente as crianças. A sexualidade é intrínseca ao ser humano. Se a escola, ao educar, não orienta a criança a lidar com sua própria sexualidade, não está educando-a integralmente.
As crianças, ao entrarem no espaço escolar, não deixam de fora suas dúvidas, conflitos, desejos, fantasias, relacionadas à sexualidade. Ao contrário, todas estas inquietações são manifestadas, de forma verbalizada ou não; nas atitudes e comportamentos. (Bonfim, 2011)
As manifestações mais frequentes nas séries iniciais são as brincadeiras que envolvem contato corporal. É comum nessas séries a curiosidade sobre concepção, relacionamento sexual, homossexualidade. Observa-se que as crianças reproduzem manifestações de sexualidade adulta vistas na TV ou presenciadas, seja no ambiente familiar ou escolar, as quais não compreendem plenamente.
O trabalho de Educação Sexual na escola pode contribuir para o real processo ensino-aprendizagem. Quando a criança possui curiosidades e angústias a respeito da sexualidade, o aspecto emocional fica abalado. As emoções negativas podem resultar em comportamentos indiferentes ou mesmo em dificuldades de aprendizagem. (Bonfim, 2011)
Segundo Goleman (1994, p.63), “emoções são sentimentos a se expressarem em impulsos e numa vasta gama de intensidade, gerando ideias, condutas, ações e reações. Quando burilados, equilibrados e bem-conduzidos transformam-se em sentimentos elevados, sublimados, tornando-se, aí sim – virtudes.”
Quando a questão da angústia é esclarecida para os alunos, aliviam- se a ansiedade, e diminui-se a agitação ocasionada por essa situação de ansiedade.
A Educação Sexual nas séries iniciais do Ensino Fundamental pode ainda contribuir na prevenção de problemas graves, como o abuso sexual, uma possível gravidez indesejada na adolescência ou a aquisição de doenças sexualmente transmissíveis. Se a pessoa aprende a lidar com a sexualidade de maneira saudável e natural, desde a infância, quando adolescente, terá condições de tomar atitudes conscientes, favorecendo assim, para o bem-estar das crianças e dos jovens na vivência de sua sexualidade.

A Postura Docente: dificuldades e limitações

A escola e os profissionais da educação têm dificuldade em abordar o tema Educação Sexual, enquanto os alunos têm suas curiosidades e dúvidas. Os docentes, em sua grande maioria, são de uma geração onde a sexualidade não era abordada no espaço escolar e até mesmo no âmbito familiar. Reprimida e repudiada pelos valores morais, culturais e religiosos como sendo algo pecaminoso, as manifestações da sexualidade na escola eram motivos de escândalo. Assim, incluir em sua prática educacional a Educação Sexual é um desafio.
Como afirma Foucault (1997, p.12), “a sexualidade é uma interação social, uma vez que se constitui historicamente a partir de múltiplos discursos sobre sexo; discursos que regulam, que normatizam instauram saberes que produzem verdade.”
Outra situação é a desaprovação da família, isso dificulta aos professores a inserção da Educação Sexual na escola. Existem famílias que acreditam que o trabalho da sexualidade com crianças é desnecessário, podendo o mesmo causar uma incitação precoce ao sexo. Tabus, preconceitos e valores estão fortemente presentes no cotidiano familiar, tornando-o conservador e não permitindo discussões a respeito do assunto. (SAYÃO, 1997)
O professor deve estar atento às diferentes formas de expressão dos alunos. Muitas vezes, a repetição de brincadeiras, apelidos ou paródias de músicas alusivas à sexualidade podem significar uma necessidade não verbalizada de discussão e de compreensão de algum tema. É essencial que o professor saiba como lidar com estas formas de expressão e comportamentos das crianças, aproveitando a oportunidade e dando início a uma conversa sobre sexualidade. Não deve levar comentários dos alunos para o lado pessoal, nem se sentir agredido por eles. O educador deve ter discernimento para não transmitir seus valores, crenças e opiniões como sendo princípios ou verdades absolutas, mas fazer uma reflexão dialógica, permitindo que o próprio aluno seja capaz de formar sua própria opinião de maneira consciente.
O distanciamento professor-aluno é uma das barreiras da Educação Sexual na escola. Para haver trabalho significativo é indispensável que se estabeleça uma relação de confiança e amizade. Para que as crianças expressem suas curiosidades de forma clara, é preciso que o docente mostre-se disponível para conversar a respeito das questões apresentadas pelo aluno e responder de maneira direta e clara.
A sexualidade infantil é íntima a qualquer criança e sua demonstração será particular a cada uma, sendo que aos educadores cabe conhecê-la, respeitá-la, conduzi-la de forma adequada, e tendo sempre em mente uma auto reflexão de sua própria sexualidade.
Considerando Bonfim (2009), um dos motivos da sexualidade ser uma temática silenciada no ambiente escolar se deve à não formação docente para abordar a educação sexual. Sendo a sexualidade um tema complexo, amplo e por envolver a educação familiar e religiosa, torna-se um assunto que exige do docente o conhecimento necessário para fazer a abordagem da maneira correta. E ainda, há que se lembrar que cada faixa etária, exige uma linguagem específica e explicações que não ultrapassem a curiosidade da criança, e ao mesmo tempo não deixe de esclarecer todas as suas dúvidas.

Conclusão

A escola sendo um lugar de curiosidades, ideias, aprendizagem, conquistas, descobertas etc., não pode excluir as manifestações da sexualidade e, sim criar um espaço de discussão aberta e franca sobre ela, deixando de lado os próprios preconceitos, permitindo que cada um se mostre como é.
É na escola, que se tem a formação de uma opinião mais crítica sobre a sexualidade, permitindo, assim, a satisfação e os anseios dos alunos. Qualquer atitude tomada pelos educadores repercute na visão da criança a respeito da sexualidade. O educando vê no professor um modelo de comportamento.
Conclui-se que, o trabalho de Educação Sexual é complexo e amplo e os educadores, sentem-se desprovidos de preparação, possuindo conhecimentos insuficientes a respeito da Sexualidade e Educação Sexual, por isso, esbarram-se, em seus conceitos errôneos, reforçados pela educação e sociedade conservadora. É necessário que o educador tome consciência de que as manifestações da sexualidade infantil constituem-se em aspectos naturais e integrantes do desenvolvimento humano.
Hoje a sexualidade é tratada de forma mais explícita do que antes, quanto mais cedo forem derrubadas as barreiras que impedem uma Educação Sexual eficaz nas instituições escolares, mais cedo teremos a minimização de problemas como a repressão sexual, o abuso sexual, o preconceito sexual, a gravidez não planejada a e a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis. É necessário que haja a implantação de Educação Sexual nas séries iniciais do Ensino Fundamental, ressaltando-se que, ela deve ser iniciada desde a Educação Infantil. Mudar é difícil, os desafios são imensos, cabe a cada um tentar dar novas cores a esse quadro, promovendo as mudanças necessárias.



REFERÊNCIAS
BONFIM, Cláudia Ramos de Souza. Educação Sexual e Formação de Professores de Ciências Biológicas: contradições, limites e possibilidades. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação. Campinas, SP: Unicamp, 2009.
______. A Escola e a Negação do Corpo da Criança. Online. Disponível na Internet in: http://educacaoesexualidadeprofclaudiabonfim.blogspot.com/2011/03/escola-e-negacao-do-corpo-e-da.html Acesso 25 mar 2011

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

FOUCAULT, M. A História da Sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal.1997

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1994.

SAYÃO, Yara. Orientação Sexual na Escola: os territórios possíveis e necessário. In: AQUINO, J. G. (org.). Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997.

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